lista das coisas pelas quais eu reclamaria causas perdidas:

– tudo que nasce morno na superfície da pele e é transportado secretamente para o sangue, pelo sangue, e dali não sai e ali não morre.
– tudo aquilo que chove
– tudo o que for considerado perdão antes do tempo
– tudo o que for considerado desejo antes do tempo
– coisas sem ar
– dores leves
– horas cegas
– bernadetes
– fumaças que não desejem, por um momento, ser outra coisa
– uma pessoa sem criado-mudo
– pensamentos no escuro

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é com a boca em fio que eu recito palavras mortas. quando morro fundo, prefiro me calar.
metade disso é ausência ou excesso. a outra metade é herança.
e mesmo quando me sinto impermeável, mesmo quando parece que nada me ultrapassa, acontecem desmoronamentos para dentro e um sujeito denso escapa para o centro.

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algumas palavras ditas em hora de fraqueza e que agora me obrigam a lidar com a vida. em torno delas, uma realidade concreta se ergueu e deixou de ser só minha. sei que palavras voam mas sei que palavras pousam. e, dependendo de onde pousarem, palavras permanecem.
agora é a vida, não sou eu.
ter que se satisfazer com um cheiro esquecido nos ombros. com as pontas dos dedos. com a face implícita. ter que se recarregar em horas curtas e turbulentas para sobreviver ao dias que se estendem em minha frente como desertos impossíveis de serem atravessados sem perecer. sentir muita sede em plena chuva.
difíceis são as horas na cama ainda vazia porque eu me imagino conquistando tudo.
tenho medo de conseguir o que quero.

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um silêncio antigo – e que foi uma escolha, eu sei.
foi de pensar que exteriorizar algo ainda tão pequeno seria sacrificar os minúsculos desejos que tornavam meus olhares mais mornos, meus gestos mais perfeitos.
agora, desse silêncio nasce um outro, muito menos leve, muito mais pesaroso. agora que palavras precisariam ser ditas.
a casa cheia, o peito cheio. o cheiro da pele sempre me trouxe problemas. deito na cama mais cedo para viver histórias imaginárias e penso que ser mais ou ser menos feliz, para mim, agora não importa. importa é poder ser outra pessoa.

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oi carol!

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um papel em branco que é uma história linda e secreta que está toda escrita mas que não é visível por não ser possível. uma obra interna. ter que experimentar muitas vidas até ser feliz. e ter que se reinventar e perder coisas essenciais pelo caminho. e caminhar em direção a coisas inúteis por pura fé – ou por terror. uma mulher sentada diante da janela num dia qualquer. uma mulher que certa noite adormeceu chorando e que, sem saber, ainda chora.

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meus olhos opacos são de caminhos errados e por isso, através deles, não posso dizer nada. mas sei que meus silêncios cabem bem nos teus ouvidos. e sei que meus sorrisos são proibidos – assim como meus desejos. nada, porém, me impede de viver coisas internas e perceber com desespero que coisas internas crescem sem ordem. quantas palavras morrem na tua e na minha boca? uma sala que se preenche com promessas improváveis. eu me iludo tendo consciência e tendo prazer. um abraço completo. saber que o que se quer é pouco e que não é possível. ter que pousar os olhos em outro lugar e ninar pensamentos fora de hora porque parece não existir morte, só repouso. recolher-se nas escolhas feitas, contentar-se com palavras. fechar os olhos para tudo que eu desejo e ser aceita em uma história que não me sustenta mas que me prende. não poder mesmo ter tudo o que se quer sempre.

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só poder escrever quando se está perdido. estar perdida. só poder escrever.

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das coisas que acho melhor não

acho melhor não olhar nos olhos quando olhar nos olhos se fez proibido. acho melhor não se derramar, não se despedaçar, não querer demais. acho melhor não cultivar impossibilidades e não alimentá-las e não desejar que elas cresçam e te envolvam e te sufoquem. acho melhor não sonhar e depois acordar querendo sonhos na vida.

acho melhor não falar demais porque palavras são reais. e o aperto no peito. porque dores são reais, mesmo as imaginadas.

acho melhor não sorrir demais porque não se gasta sorriso, mas se gasta força. e tenho certeza que a força se esgota. talvez depois se renove, mas no momento em que se esgota, não resta nada, e se fica exposto a tudo aquilo que mais se deseja. e é esse o perigo. a súplica mais dolorida e necessária. e o tempo todo luzes vermelhas piscam do lado de dentro do corpo pra lembrar que tudo está sempre em desequilíbrio, sempre a beira de.

todos os dias acordo com um cheiro morno de pequenos abandonos. a cama já quase fria e vazia, com lençóis revolvidos. o travesseiro amassado, coisas fora de lugar. recolho rastros e construo o amor, sabendo que amor também é só uma palavra.

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não tenho olhos grandes mas tenho desejos.

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