acho melhor não olhar nos olhos quando olhar nos olhos se fez proibido. acho melhor não se derramar, não se despedaçar, não querer demais. acho melhor não cultivar impossibilidades e não alimentá-las e não desejar que elas cresçam e te envolvam e te sufoquem. acho melhor não sonhar e depois acordar querendo sonhos na vida.
acho melhor não falar demais porque palavras são reais. e o aperto no peito. porque dores são reais, mesmo as imaginadas.
acho melhor não sorrir demais porque não se gasta sorriso, mas se gasta força. e tenho certeza que a força se esgota. talvez depois se renove, mas no momento em que se esgota, não resta nada, e se fica exposto a tudo aquilo que mais se deseja. e é esse o perigo. a súplica mais dolorida e necessária. e o tempo todo luzes vermelhas piscam do lado de dentro do corpo pra lembrar que tudo está sempre em desequilíbrio, sempre a beira de.
todos os dias acordo com um cheiro morno de pequenos abandonos. a cama já quase fria e vazia, com lençóis revolvidos. o travesseiro amassado, coisas fora de lugar. recolho rastros e construo o amor, sabendo que amor também é só uma palavra.