distante

antes não era possível mas era real. o toque estreito e rápido num gesto descuidado, procurar discretamente o calor da pele entre os casacos pretos de veludo, olhar bem no olho e de repente não saber se mantém os olhos, arriscando se deixar transbordar, ou se os controla, dissimula, abaixa a cabeça, confirmando, assim, com um gesto de recolhimento, todo a intensidade cruel do amor que sente.

hoje seu sorriso é só mais um dos sorrisos que vejo nos jornais. acordo todos os dias para ele, sabendo que ele não está. acordo e vejo a cidade cinza, com as pessoas cinzas e o céu cinza e as ruas cinzas. passo o batom mais vermelho, que comprei enquanto o esperava, e penso que, assim, com a boca suja de sangue e de amores difíceis, não vou me desintegrar.

Dev em palavras .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *