gestos minúsculos.
ela, insustentável, na janela aberta da sala, desfiava em voz alta a lista dos seus afazeres domésticos, de todas as lembranças dolorosas da vida, a das palavras preferidas, a das coisas mais bonitas do dia …

era da sua própria vida que ela vivia. se fazia algo, não era pelo momento da ação mas por todos os momentos posteriores em que reviveria essa ação. pelo prazer de acrescentar ao intricado jogo de instantes classificados mais uma peça incerta. porque era disso que vivia há anos, na janela, de olhos fechados e pálpebras trêmulas.

o mundo que era dela não era de mais ninguém. seu toque era raro e silencioso e seu funcionamento era secreto, embora estivesse sempre pronunciando as palavras que agitavam o seu lado de dentro.

na sala, um velho vitral desbotado refletia em seu corpo sombrio peças de um antigo quebra-cabeças, já desconexo e irrecuperável.

Dev em palavras .

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