a história da flor vermelha

dava pra ver que seria vermelha quando decidisse. era verde e um pouco ridícula, como todas as outras. torta. mas já dava pra ver.
o dia em que se entregou, se entregou tão completamente que secou. secou vermelha.
por afeto e por encanto continuou a existir depois de morta. continuou no lugar privilegiado da casa. desde então, o que era vida virou um prolongamento quase amorfo, tão desnecessário, que não é nem eterno nem puro nem nada. um prolongamento que é o retrato lento de sua morte quebradiça.
ao longo dos anos ela tem se dedicado à arte de existir vermelha e seca. nenhuma outra morte resistiu tão bem ao tempo e às mudanças e, agora, na solidão mais eterna e subterrânea, ela aperfeiçoa sua íntima decadência.
um dia comprei um vaso branco. o vaso branco mais bonito de todos os vasos brancos. sua irrealidade se apegou à flor e essa é minha história preferida.

a terra inútil e preta – tão preta quanto qualquer outra – enche o dia.

Dev em palavras .

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