ando na fase das coisas possíveis. estou convencida de que, se o que grita o peito não me chega aos ouvidos, é porque assim deve ser. por praticidade talvez. tenho mesmo sido prática e tudo ficou muito mais bege e leve. mais suave e morno. dedico minhas horas para que as coisas funcionem.
se em momentos ignoro completamente a razão de estar aqui agora, instantes depois só isso, só o que vivo, parece possível. não sei o quanto de mim se perdeu. que partes, exatamente, se enclausuraram na casa antiga por achar estúpido abandonar dias perfeitos.
não amanheço mais com folhas mortas sobre os lençóis. todo o cinza que vejo me penumbra e faz palpitar em mim coisas estáveis que há muito estavam adormecidas.
voltei a apertar o passo embora ainda nunca olhe para a frente. hoje fumo o último cigarro do dia com muito mais prazer e tédio. todos os dias acordo sem nem amor nem dor. o ar me falta um pouco, mas existir é mais concreto.
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