uma coisa concreta em fragmentos – desabafo

estar cultivando, não sem resistência, mas estar cultivando uma pequena vida em comum. ter superado o episódio da escova-de-dentes e achar que agora a escova-de-dentes dele combina com a minha, e que as duas na xícara contam uma história bonita, sem ser feliz nem ser triste, de uma mulher seca que foi abandonada por um eremita. depois de despedir uma despedida tão improvável, um dos olhos da mulher ficou oco para sempre; um de seus pés ainda reluta em unir esforços com o outro e uma de suas mãos nunca mais se abriu.
ele me ensinar coisas eternas antes de dormir, sabendo que eu sou etérea, e não saber sussurrar e ter músicas preferidas saindo por debaixo da cama, talvez brotando do chão do quarto, e ter a cabeça dele sobre o meu peito, pensando sussurrar coisas inúteis, e não saber qual coração está batendo em quem. e ter um cigarro na hora certa e um beijo na testa e eu tenho aprendido a caber em metade da cama mesmo sabendo que eu teria a cama inteira se assim eu quisesse.
que tudo vem de desejos e escolhas. e que isso é tão amplo que não trará certezas nenhuma para a vida de ninguém, mas que dá uma sensaçãozinha boa de ter tudo sob controle.
dormir com o braço dele aureolando minha cabeca como se me abençoasse sem me tocar, para não interferir nos meus sonhos nem nas minhas doenças.
alguém que repete exatamente as frases mais cruéis da música quando imagina sussurar na minha orelha: hold me like you’d never let me go. sabendo que eu sou trêmula e sem saber que sou eu quem precisa do abraço, porque eu parto, porque é da minha natureza partir.

a companhia dele em silêncio é rara mas é uma carícia. uma carícia necessária.

Dev em palavras .

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