foi quando ela realmente tentou desamar uma pessoa pela primeira vez.
… ao perceber que cometeria fatos reais se se deixasse levar por ele. que viveria mesmo. que tomaria providências. que hemorragias deixariam de ser internas. que hemorragias deixariam de ser. e ela seria cada vez mais vermelha por não sangrar nunca. e deixaria de parecer fraca, de ficar pálida, de ser perecível. deixariam de existir os dias mais longos da semana, as semanas mais incertas do mês. não haveria mais mortes temporárias porque ela teria que se apresentar à sua própria vida.
criaria begônias em vez de musgos. logo ela, que era úmida.
sim, seria o fim de seus olhos opacos. ela, que gostava de ter olhos opacos. fim de ser outra pessoa no espelho a certa hora da sua madrugada. fim de beijar palavras e chorar paredes.
ela teria, mais que tudo, que reestruturar sentenças: não chover, não ventar. abandonar os sujeitos impossíveis, os objetos inexistentes. não sofrer de céu sem cor.
ser específica e não ensaiar sobre as coisas que se rompem facilmente, coisas que seriam chão, coisas que nunca se tocaram. não enxergar azul nada que não seja azul.
bobagens, bobagens e ela teria que desinventar sua gramática. e seria muda por um tempo. pra depois ser ordinária.

Dev em palavras .

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *