porque eu tenho sim uma flor de lis incrustada em algum lugar aberto do meu peito. sou pura nesse fim de mundo. a flor no peito, a realeza.
tenho um lírio na nuca, que me sussurra o norte das coisas. tenho um lírio na língua, implorando perdão pra qualquer deus. tenho um lírio brotando da mão. e tenho terra nos olhos. o suficiente.
eu sinto o exato momento em que ter pés é só uma invenção cruel.
quase toco em verdades. mas faísco
e tudo me escapa, lenta e inevitavelmente.
porque meu beijo no espelho é uma flor de lis e eu vivo chorando por signos perdidos. vivo correndo atrás de absurdos. tenho três pontas e em cada uma morre um demônio estreito. morre em silêncio. todos os dias. todos os dias. e em cada demônio, uma flor de lis, a mesma – aquela do peito, da mão, da língua, da nuca – marcada a ferro quente atrás do ombro. eu correndo atrás de absurdos.
um dia quase preciso.
uma reza sem fe gravada num pedaco aspero de pele.
essa, a hora mais dificil.